Tambanoka
Outro filho do Sol e da Lua era um caranguejo gigantesco, chamado Tambanokano. Ele ainda vive e é tão poderoso que toda vez que abre e fecha seus olhos há um clarão de relâmpago. Na maior parte do tempo o caranguejo vive em um grande buraco no fundo do mar, e quando ele está lá nós temos maré alta; mas quando ele deixa o buraco, as águas rapidamente o adentram e ha maré baixa. Seu movimento também causa grandes ondas na superfície do mar.
(Mabel Cook Cole – Philippine Folk Tales)
As Ilhas de Angker são lar de uma variedade de monstros marinhos, que vão de simples polvos gigantes aos terríveis dragões marinhos conhecidos como Bakonawa. Abaixo apenas dos mais antigos entre esses últimos estão os crustáceos titânicos conhecidos como Tambanoka. Esses kaiju do mar não são simples bestas como os caranguejos gigantes que infestam outros mares, sendo dotados de inteligência e astúcia comparáveis às de um kraken. A presença de um Tambanoka pode ser notada de longe por uma nuvem de chuva que se move junto com ele quando deixa as profundezas do oceano, anunciando sua presença com fortes vendavais que açoitam as vilas e aldeias que esses monstros atormentam durante os períodos de chuva das monções.
Os Tambanoka são pastores de tempestades, dominando uma série de feitiços de controle do clima. Suas formas gigantescas estão muitas vezes cobertas por névoa ou por uma grossa cortina de chuva, deixando aparente apenas a silhueta e os ameaçadores relâmpagos que saem de seus olhos. Esses raios são a principal arma de um Tambanoka, que prefere usar suas grandes garras apenas para se exibir em feitos de força ou contra ameaças que os obriguem a se defender fisicamente. Não se sabe quantos Tambanoka existem nas Ilhas de Angker, uma vez que essas criaturas deixam suas tocas apenas algumas vezes por ano durante certas luas. Um deles habita as águas da Praia dos Lagan em Biringan, podendo ser um potencial aliado dos Seres Abissais que se instalaram na região. Outro sempre que está ativo ataca navios pirata na saída do arquipélago, já tendo acumulado uma grande fortuna com o tesouro dos navios que naufragou.
Rastejante Primordial
-What do you call that thing?
(King Kong – 1933)
O Reino da Serpente é conhecido assim pelas ruínas do Império Naga perdido, mas esse nome também se mostra adequado com as muitas espécies de répteis estranhos nativas da região. De cobras e lagartos voadores aos grandes dinossauros que habitam as regiões mais remotas das ilhas, existe toda uma fauna escamosa que perambula pelos vales úmidos e praias tropicais. Mas nenhum desses répteis consegue ser tão bizarro quanto o Rastejante Primordial, chamado assim apenas por uma convenção dos naturalistas Arautos do Vapor que encontrou a espécie durante uma expedição, possuindo vários outros nomes entre os habitantes do arquipélago.
O Rastejante tem a aparência de um lagarto monitor de escamas duras e cinzentas, como os lagartos-dragões que habitam as ilhas mais ao sul de Bedwang. Assim como eles, ele possui garras afiadas, uma língua longa e bifurcada e uma mordida tão infecciosa que sua saliva é tão mortal quanto veneno. Mas seu corpo é alongado e sinuoso como o de uma cobra, e é sustentado apenas por um único par de patas, sua característica mais estranha. Uma crista baixa e afiada como a de um iguana percorre as costas dos machos, assumindo diferentes tonalidades como a pele de um camaleão, que são usadas para indicar o humor da criatura. Os naturalistas que a registraram acreditam que ela seja uma espécie de elo perdido entre dinossauros e dragões, apontando o comportamento tirânico e o sopro tóxico desses monstros como evidências, mas isso ainda é razão de grande debate nas academias de ciência e magia.
Os Rastejantes Primordiais habitam o interior de penhascos e ravinas, onde se alimentam de qualquer animal menor do que eles, incluindo na dieta invertebrados gigantes e outras criaturas da megafauna do Reino da Serpente. A tribo de homens-macaco dos Orang-Pendek possui um grande temor dessas criaturas, que podem viver logo abaixo de seus territórios e por vezes rastejam até suas aldeias. Enfrentar um Rastejante é considerado por eles um feito digno de profunda admiração e amizade.
Anufat
Anufat era um grande e feio taotaomo’na. Ele tinha grandes presas e unhas. No lado de seu corpo havia um imenso ferimento aberto, para fora do qual crescia um galak dangkulu (um tipo de grande samambaia).
(Guampedia)
Os Guse’Kajulo, o povo nativo das Ilhas Haligi, utiliza o termo taotaomo’na para se referir a uma série de entidades que vão de espíritos ancestrais e totêmicos das aldeias até simples goblins do arquipélago tropical. Um desses seres é o Anufat, uma besta mágica que habita as pequenas selvas no interior das ilhas, o que felizmente torna a sua população reduzida. Visto de longe, o Anufat pode lembrar um totem ou golem da cor de areia escura, coberto por vegetação. Mas uma observação mais próxima revela que ele é na verdade um tipo de crustáceo parecido com um camarão louva-a-deus, capaz de se fechar em sua carapaça como uma estátua. As plantas simbiontes que crescem sobre o Anufat são parte de sua ligação com o Verde, que tem origem no local de nascimento e covil dessas criaturas, entre as raízes e galhos da maior figueira da floresta. Samambaias são as mais comuns, mas essas criaturas podem ter qualquer planta nativa do arquipélago crescendo sobre seus corpos, incluindo cipós floridos, pequenas palmeiras e até mesmo plantas mágicas.
Os que vivem mais próximos da praia podem às vezes crescer algas na maré baixa, mas isso é bastante raro uma vez que os Anufat detestam a água salgada e evitam o mar sempre que podem. Não se sabe de onde vem essa rejeição, mas apesar de sua forma crustácea essas bestas são predominantemente terrestres, e são incapazes de nadar apesar de poderem caminhar no fundo da água caso precisem. Um Anufat submerso não se afoga, mas contato prolongado com água salgada faz com que a maior parte de suas plantas sequem e morram, o que deixa a criatura em estado catatônico até que uma maré baixa prolongada os desperte. Quando está ativo, o Anufat enxerga o mundo através de dois grandes olhos verdes sem pupilas, e assim como um camarão louva-a-deus possui pinças poderosas, que podem derrubar a parede de uma cabana com um golpe. Anufats são criaturas agressivas e territoriais, que apesar de tirarem boa parte de seu sustento da fotossíntese não hesitam em caçar qualquer criatura que perambule pelos arredores de sua floresta. Os Guse’Kajulo sabem disso e tomam cuidado ao passar pela área de um Anufat, mas piratas e colonos desavisados costumam se tornar presas fáceis, especialmente quando despertam a ira da criatura ao derrubar as árvores de seu lar.