Mapa de Ararauma terça-feira, abr 23 2013 

A selvagem Araruna é uma terra de muitas riquezas, disputadas pelos corsários de Aurin e Windlan. As inúmeras tribos indígenas da região formam um complexo jogo de alianças e conflitos. Enquanto algumas servem aos colonizadores, outras usam de violência brutal para defender seus territórios ou invadir outros.

A maior parte da costa é preenchida pela Mata do Caranguejo, uma exótica selva costeira que abriga muitos portos, entre eles Porto Negro, o principal entreposto de Aurin na região.

A parte ocidental de Araruna é ainda pouco explorada, mas parte dela é ocupada pela Floresta dos Dezesseis Rios, uma área de vegetação úmida e tropical cortada por águas escuras.

Em uma parte isolada do litoral norte fica o Reino Turquesa, um lugar de dunas brancas e enseadas cristalinas, lar de uma grande população de elfos do mar.

(Clique no nome da região para ouvir a trilha sonora correspondente)

Mata do Caranguejo

Mata do Caranguejo

A Mata do Caranguejo se inicia nos extensos manguezais e restingas do litoral e segue por uma floresta fechada de palmeiras e bromélias, chegando até os pés de serras cobertas de neblina. De clima tropical e úmido, ela possui um terreno irregular, entrecortado pela água cristalina das cachoeiras que descem das elevações até se juntarem ao mar no aguaçal salobro do mangue. É na lama escura desses locais que vivem as várias espécies de caranguejo que deram à mata seu nome, algumas delas transformadas pelo poder da Mãe d’Água. Além dos crustáceos, é possível encontrar toda sorte de criatura selvagem na vegetação exuberante. Onças pintadas, serpentes venenosas e manadas de porcos selvagens são apenas alguns dos perigos que ameaçam exploradores. Guerreiros anfíbios e monstros vegetais se escondem na selva densa, enquanto bandos de diabos do mar aterrorizam as áreas costeiras. Encontrar sustento na selva não é tarefa fácil, e muitos viajantes inexperientes já sucumbiram de fome nos labirintos de galhos e raízes suspensas.

Os grupos que desbravam a selva contam com a ajuda dos vários grupos indígenas da Mata para superar esses obstáculos, mas é preciso cautela ao lidar com eles. Muitas tribos desconfiam dos colonizadores por tentativas de escravidão e disputas de terras, enquanto outras são conhecidas por vender barato sua lealdade. Algumas delas são formadas por canibais, que devoram seus prisioneiros em rituais complexos. Os nativos mais pacíficos auxiliam a  capital da colônia aurinesa, Porto Negro, defendendo suas fronteiras ou ajudando a manter os estoques de provisões. O Império do Leão controla a maioria dos portos e povoados costeiros da região, habitadas pelo povo mestiço conhecido como Caiçara. Porém, nos locais de acesso mais difícil se escondem portos piratas e quilombos, refúgios de escravos negros pertencentes a um mesmo grupo étnico.

Floresta dos Dezesseis Rios

Floresta dos Dezesseis Rios

Intermináveis caminhos de águas coloridas ainda pouco tocadas pelos colonizadores formam a Floresta dos Dezesseis Rios. Essa bacia fluvial retira seu nome dos maiores e principais cursos de água, mas possui na verdade infindáveis afluentes que deles derivam. Tingidos de azul, vermelho, marrom e negro  pela travessia da Mãe d’Água, os Dezesseis Rios serpenteiam por uma imensa floresta tropical, que em algumas épocas do ano fica quase totalmente inundada. Os Auás são os indígenas nativos, um povo esquivo que vive nas profundezas da selva e evita fazer contato com outros humanos. Seus batedores podem ser vistos às vezes nas margens, cobertos por vestes de palha e usando máscaras de animais. Outros humanoides nativos também habitam a Floresta, em especial os Keches, selvagens símios que costumam atacar viajantes. As águas por sua vez abrigam uma profusão de seres, como as sereias Icamiabas, a Tribo da Lagoa Negra, formada por diabos do mar adaptados à água doce,  e os graciosos e enigmáticos Botos. Tentando prosperar nesse ambiente, as poucas vilas de colonos se erguem desajeitadas sobre palafitas em meio à paisagem, transportando as especiarias que coletam na mata em velozes barcos à vapor que deslizam pela torrente de águas coloridas.

Reino Turquesa

Reino Turquesa

Também chamado Reino das Águas Claras, esse lugar ao norte da Mata dos Caranguejos é composto por ilhas rochosas, falésias e dunas brancas de um deserto intercalado por lagoas formadas pela água da chuva, com o mesmo tom azul-esverdeado do mar que banha o litoral. Bandos nômades de várias etnias vagam com seus rebanhos de cabras de um lado a outro, guiados pelas estações. Alheios a eles, os elfos do mar da Corte Escamada nadam entre golfinhos, tartarugas e arraias abaixo das ondas, explorando com curiosidade as ruínas nheengaíbas e os inúmeros naufrágios da região. Seus salões ficam nas ilhas mais afastadas da costa, e apesar de parecerem simples cavernas a um observador mais desatento, guardam infinitas maravilhas em seu interior. Não são poucas as histórias sobre tesouros mágicos e monstros marinhos contadas pelos nômades em suas cabanas de palha sazonais. Algumas delas no entanto não se referem aos elfos aquáticos, mas sim aos Dragões de Bronze que descansam nos penhascos à beira-mar. Grandes e pacíficos como baleias, eles escavam seus ninhos nos paredões de rocha macia e possuem um apetite particular pelas grandes lagostas que se escondem nos coloridos recifes de coral.

Introdução – Ararauma sexta-feira, abr 5 2013 

As tábuas do convés rangiam de forma estranha. Um bom capitão precisa estar atento a todos os sons de seu navio, mas talvez fosse apenas a falta de familiaridade com a nova embarcação. Sim, era apenas isso. Há menos de uma semana tinha sido designado ao posto, e mal conhecia a tripulação.

A partida de Porto Negro foi apressada, já que a Esquadra Delfina precisava do maior número possível de naus trabalhando na costa. Havia escutado muitas conversas no porto, sobre tribos indígenas se aliando aos inimigos windleses. Pensava em suas longas viagens, quando ainda era apenas um imediato a serviço de Aurin, sempre acompanhando o rastro de destruição mútua entre sua nação e  os exércitos de Windlan.

‘Não importa o rumo, a tempestade sempre alcança’ pensou, sorrindo irônico. ‘E desde quando o Capitão Guerra procura por paz?’ disse ao vento, atravessando o passadiço iluminado pela enorme lua cheia, que reluzia abaixo na maré calma.

Em noites como aquela costumava subir até a gávea, para ficar observando o oceano e o horizonte, mas dessa vez estava disposto a passear no convés, e quem sabe encontrar alguém com quem dividir uma garrafa de rum. Pensou na cozinheira cigana, mas ela deveria estar  cuidando de seus afazeres. Foi quando as notas de uma canção em uma língua que não conhecia chegaram aos ouvidos.

A melodia daquela música o lembrava  de sua infância nas ruas salgadas do porto. Procurando a origem do som com a cabeça, encontrou a elfa do mar debruçada sobre a proa, usando uma simples camisola branca de seda. A pele azulada e os longos cabelos verdes como algas não combinavam em nada com o traje humano, mas ainda assim ela estava  à vontade naquele barco, muito mais do que ele.

Certamente era difícil se acostumar a Serullya, a exótica viúva do capitão anterior do navio, que à noite costumava perambular como um fantasma pelo convés. Pelo jeito iria demorar para se acostumar. ‘Seria prudente trocar uma palavra com ela’ pensou, arrumando seu casaco rasgado com largas ombreiras douradas. ‘Ela precisa saber quem dá as ordens na embarcação agora, de qualquer forma’.

Subiu até a proa pela escada estreita, fazendo com que as orelhas da elfa se movessem de leve, atentas. Ela interrompeu sua canção e se virou para encará-lo de maneira serena, cruzando as mãos sobre a cintura e se inclinando para cumprimentá-lo.

-Capitão – disse de maneira educada, mesmo não parecendo muito confortável com sua presença ali.

-Não é tarde para estar fora de seus aposentos? – respondeu Guerra com sutileza, apoiando uma das mãos sobre o parapeito da proa.

-É mais difícil que alguém da tripulação me incomode durante a noite – Serullya respondeu de forma seca, voltando a vislumbrar as ondas batendo no casco.

-Espero que não esteja se referindo a mim, señorita. – respondeu em um tom inquisitivo, como se estivesse repreendendo um marujo.

-Absolutamente não, Capitão. Já fez muito por mim permitindo que eu ficasse no navio – disse com respeito, embora ele soubesse que ela jamais sairia viva de perto daquele velho casco coberto de lodo.

-Sim, eu fiz. – anunciou satisfeito – Mas saiba que essa nau poderá tomar um novo rumo sob o meu comando.

-Não há mudança de rumo para os que navegam acima do mar. – a elfa respondeu o olhando com tristeza, como se perdida em lembranças – Fama. Fortuna. Aventura. Todos vocês procuram as mesmas coisas, não?

Guerra tossiu uma risada, surpreso com a resposta.

-Todo poderoso Netuno! Nisso você está certa. – ele disse, arrumando as mangas do casaco – E algo me diz que não iremos demorar a encontrá-las. Retire-se antes da mudança de turno, madame. Não quero os grumetes me perturbando com histórias supersticiosas pela manhã.

O capitão girou em seus calcanhares e desapareceu nas sombras do convés abaixo. Novamente sozinha, a jovem viúva se inclinou sobre a amurada e acariciou a superfície de madeira carcomida pela maresia, como se estivesse afagando seu próprio marido.

-Não se preocupe com ele, meu amor. – cochichou Serullya para o navio – Ele ainda saberá que você possui seu próprio rumo.